Questionário

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Introdução

O presente estudo tem como objectivo averiguar quais as barreiras à exportação mais relevantes para as pequenas e médias empresas (PME) portuguesas que exportam ou exportaram no passado para o Japão. Para se proceder a essa análise, primeiro foi feita uma revisão de literatura sobre as barreiras à exportação no geral, seguida de uma análise de barreiras que empresas estrangeiras encontram ao fazer negócios no Japão. Após esta análise, seguindo de perto uma categorização das barreiras à exportação entre internas e externas, tal como sugerido por Leonidou (2004), e cuja caracterização foi seguida por um estudo semelhante da OCDE (2008), foi criada uma lista de barreiras para o caso português. Durante este processo, seguindo o exemplo do estudo da OCDE (2008) acima referido, procurou-se contactar agentes institucionais, de modo a, através do seu conhecimento, criar um questionário adaptado ao contexto português.

Esta secção apresenta um breve resumo da revisão de literatura conduzida, seguida da lista das barreiras incluídas na parte 4 do questionário. Por fim, uma explicação sobre as conversas preparadas e concretizadas é apresentada.

Nota: as informações contidas nesta página são um breve resumo das que constam na dissertação final.


Revisão de Literatura

A revisão de literatura foi o primeiro passo para o desenvolvimento do questionário enviado. Pretendia-se com a revisão de literatura imediatamente encontrar estudos de empresas portuguesas exportadoras para o Japão, e os desafios encontrados. Contudo, em primeiro lugar seria necessário estudar o que a literatura entende por barreiras à exportação.

As barreiras à exportação podem ser de origem variada: financeiras, recursos humanos, acesso a tecnologia, ordenamento jurídico nacional e estrangeiro, entre outras. De modo a se poder proceder a uma análise das mesmas, a literatura sugere várias categorizações das mesmas. Para este estudo, o modelo apresentado por Leonidou (2004) - um estudo amplamente mencionado na literatura - foi adoptado. Adicionalmente, alguns elementos e linguagem utilizados no livro de Cateora et al., "International Marketing" foram incluídos, conduzindo à seguinte adaptação:

Elementos controláveis e elementos não controláveis

Os elementos controláveis referem-se às barreiras internas, ou seja, aquelas cuja a empresa terá controlo e, assim, capacidade interna de as ultrapassar. Já os elementos incontroláveis, referem-se às barreiras externas, ou seja, aquelas que a empresa não tem controlo. As barreiras externas podem se referir às do mercado doméstico, como, por exemplo, restrições à exportação de determinados produtos, e às do mercado externo, tais como as barreiras tarifárias e não tarifárias.

Para verificar as barreiras incluídas neste agrupamento ao caso japonês, uma análise a 20 estudos sobre dificuldades em fazer negócios por parte de empresas estrangeiras no Japão foi conduzida. As barreiras encontradas nos estudos foram extraídas e adaptadas ao modelo apresentado acima. Por não haver muitos estudos ao caso português, optou-se por realizar conversas para ajudar no desenho do questionário.


Lista das Barreiras à Exportação

A principal divisão das várias barreiras agrupadas é entre aquelas que são internas (elementos controláveis), e externas (elementos não controláveis). A partir dos modelos apresentados por Leonidou (2004) e Cateora et al. - que serviram de base para a estrutura utilizada, bem como a definição de várias barreiras -, da extracção das barreiras dos 20 estudos mencionados, e das conversas com agentes institucionais portugueses, a lista abaixo foi compilada e posteriormente enviada a um conjunto de empresas, cuja informação foi providenciada pelo Instituto Nacional de Estatística com as empresas portuguesas exportadoras para o Japão no ano de 2020. Adicionalmente, a Aicep também providenciou uma lista de empresas que exportam ou exportaram no passado para o Japão.

Nota: as listas providenciadas pelo INE e pela Aicep não continham dados de contacto, somente o nome das empresas e a sua localização. Os contactos foram obtidos através da Internet, contudo, não foi possível obter todos, o que levou a que, infelizmente, várias empresas não fossem contactadas.

Lista das Barreiras

N.º Tipo Descrição Explicação
1 Interna Obter informação relevante para analisar o mercado japonês.
2 Interna Identificar oportunidades de negócio no Japão.
3 Interna Tempo para gerir o mercado japonês.
4 Interna Recursos Humanos com qualificações para lidar com o mercado japonês.
5 Interna Capacidade de produção da empresa para responder à procura externa.
6 Interna Capacidade financeira para suportar os custos para exportar para o Japão.
7 Interna Adaptação/desenvolvimento de produtos para o mercado japonês.
8 Interna Responder às especificações técnicas, de qualidade, e padrões exigidos.
9 Interna Responder às especificações de embalagem e rotulagem.
10 Interna Providenciar serviços de pós-venda e/ou técnico.
11 Interna Oferecer produtos com uma relação preço-qualidade competitiva.
12 Interna Complexidade do sistema de distribuição japonês.
13 Interna Dificuldade em estabelecer uma parceria/representação no Japão.
14 Interna Dificuldade em manter controlo sobre a representação/imagem no Japão.
15 Interna Custo excessivo de transporte/seguro.
16 Interna Ajustar atividades promocionais de exportação para o Japão.
17 Externa A falta de assistência/incentivos do governo português.
18 Externa Procedimentos complexos para a exportação para o Japão.
19 Externa Comunicar diretamente com clientes japoneses.
20 Externa Receber pagamentos do Japão.
21 Externa Compreensão das atitudes e hábitos dos consumidores japoneses.
22 Externa Desconhecimento dos produtos portugueses pelos japoneses.
23 Externa Concorrência muito forte no mercado japonês.
24 Externa Condições político-económicas no Japão.
25 Externa Práticas e cultura de negócio diferentes do Japão.
26 Externa Diferenças na comunicação verbal (idioma) e não verbal (cultura).
27 Externa Normas e regulamentos específicos do mercado japonês.
28 Externa Custos aduaneiros altos.

Explicação de cada barreira

Barreiras Internas

   1. Dificuldade em obter informação relevante para analisar o mercado japonês.

Obter informação sobre o mercado-alvo pode ser uma barreira caso seja difícil. Por exemplo, obter informações sobre Espanha é mais fácil do que sobre o Japão, por várias razões: proximidade geográfica, cultural, linguística, entre outros.

   2. Dificuldade em identificar oportunidades de negócio no Japão.

O não conhecimento do mercado, dos canais de distribuição, do tecido empresarial, a falta de parcerias no mercado, podem ser barreiras para identificar oportunidades de negócio.

   3. Limitações no tempo para gerir o mercado japonês.

As exigências do mercado doméstico e/ou outros mercados estrangeiros, podem levar a uma escassez de tempo para se dedicar ao Japão. As exigências do mercado japonês também podem exigir mais tempo por parte da gestão. Esta barreira é mais significativa em empresas pequenas, com recursos (humanos e financeiros) limitados para responder a oportunidades de negócio no Japão.

   4. Falta de recursos humanos com qualificações para lidar com o mercado japonês.

A falta de pessoas com conhecimento sobre o mercado japonês apresenta-se como uma barreira. Por exemplo, não ter acesso a alguém que conheça a língua significa estar dependente de um intérprete externo, aumentando assim o custo de trabalhar com o Japão. A economia, a cultura de negócios, o sistema legal, entre outros, implica recursos humanos especializados nestas áreas.

   5. Capacidade de produção da empresa para responder à procura externa.

Poderá ser uma barreira significativa em empresas que reagem a pedidos vindos do Japão. Não tendo capacidade produtiva instalada para responder à procura do mercado japonês pode levar a uma perda de negócio para concorrentes já preparados para responder às exigências do mercado japonês.

   6. Capacidade financeira para suportar os custos para exportar para o Japão.

O custo para vender no Japão inclui a adaptação dos produtos para o mercado, a contratação de recursos humanos qualificados, a contratação de empresas externas para ajudar na exportação, os custos de transporte, custos aduaneiros, entre outros. A distância geográfica e diferenças culturais podem acarretar um esforço maior, do que, por exemplo, exportar para Espanha que é um mercado culturalmente e geograficamente mais próximo.

   7. Adaptação/desenvolvimento de produtos para o mercado japonês.

De forma a ir ao encontro das regulações e/ou gostos dos consumidores japoneses, adaptações à oferta podem ser necessárias, o que acarretará novos custos, entre outros.

   8. Responder às especificações técnicas, de qualidade, e padrões exigidos.

O consumidor japonês tem gostos diferentes do português e padrões de exigência diferentes. É sabido que os japoneses dão valor ao pós-venda. Adicionalmente, produtos que cumprem as regras em Portugal poderão não cumprir as regras do mercado japonês. Esta adaptação pode trazer custos altos e ser uma barreira significativa para as empresas que não estão preparadas.

   9. Responder às especificações de embalagem e rotulagem.

Os produtos no Japão têm que estar em japonês, mesmo que isso passe por um autocolante. A embalagem de certos produtos também requer uma adaptação, o que significa um esforço extra na venda do produto. Vários estudos indicam que o consumidor japonês valoriza a apresentação dos produtos vendidos, acrescentando um custo no desenvolvimento e produção das embalagens.

   10. Providenciar serviços de pós-venda e/ou técnico.

Oferecer serviços pós-venda e/ou técnico requer um investimento extra, quer seja através de uma filial dedicada para este propósito, ou na formação de uma equipa japonesa que possa dar resposta a estes pedidos. Usualmente esta necessidade está mais ligada a sectores que vendem tecnologias mais complexas. Face a esta necessidade, a incapacidade de dar resposta apresenta-se como uma barreira significativa.

   11. Oferecer produtos com uma relação preço-qualidade competitiva.

O posicionamento da relação preço-qualidade do produto no mercado japonês dependerá do sucesso dos concorrentes. Alguns produtos posicionam-se a um preço mais elevado, para responder aos custos da exportação, mas não conseguem atingir o público-alvo. A análise desta relação ditará a perceção desta barreira como muito importante ou pouco importante.

   12. Complexidade do sistema de distribuição japonês.

O sistema de distribuição japonês é considerado muito complexo e ineficiente, devido à sua estrutura multicamada que inclui vários distribuidores e retalhistas antes de o produto chegar ao consumidor final. Adicionalmente, os canais de distribuição são muito fechados, sendo difícil encontrar uma parceria para distribuir o produto ao preço desejável. Esta barreira, contudo, poderá ser menos relevante para as empresas que exportam para importadores que já têm as suas cadeias de distribuição estabelecidas, ou diretamente através da Internet.

   13. Dificuldade em estabelecer uma parceria/representação no Japão.

A existência de grupos económicos (conhecidos como keiretsu) - com relações estreitas entre os vários agentes ao longo da cadeia de distribuição - faz com que seja difícil estabelecer uma relação comercial para a distribuição dos produtos exportados para o mercado japonês. O não conhecimento da oferta portuguesa, a dificuldade na comunicação, a concorrência, entre outros, aumenta a importância desta barreira.

   14. Dificuldade em manter controle sobre a representação/imagem no Japão.

A distância, a cultura de negócios diferentes, a compreensão da oferta portuguesa, o esforço financeiro necessário, a contratação de recursos humanos no Japão para representar os produtos portugueses, entre outros, pode levar a discrepâncias entre aquilo que é desejado e aquilo que é transmitido. Alguns estudos apontam para divergências nas práticas de gestão europeias com as japonesas, que leva a que a cultura e imagem não sejam compreendidas pelos japoneses.

   15. Custo excessivo de transporte/seguro.

Perante a distância do mercado japonês para o português, os custos de transporte e de seguro podem ser um entrave para poder exportar a um preço competitivo.

   16. Ajustar atividades promocionais de exportação para o Japão.

Exportar para o Japão implica dar a conhecer a oferta portuguesa e encontrar, educar, e estabelecer parcerias com japoneses. Todas estas ações implicam um investimento extra (financeiro, humano, temporal) que poderá não ser suportável por algumas empresas.

Barreiras Externas

   17. A falta de assistência/incentivos do governo português.

Perante as exigências financeiras e as oportunidades de negócio apresentadas na terceira maior economia do mundo, a falta de incentivos governamentais que ajudem as PME a ultrapassar as várias barreiras do mercado japonês, podem levar a que empresas concorrentes de outros países agarrem essas oportunidades.

   18. Procedimentos complexos para a exportação para o Japão.

A burocracia para a exportação para o Japão pode ser vista como uma barreira importante. Quanto mais complexos forem os procedimentos, mais importante esta barreira poderá ser. Procedimentos complexos irão exigir mais energia (conhecimento técnico, recursos financeiros, tempo, etc.) para se conseguir dar resposta ao exigido.

   19. Dificuldades em comunicar diretamente com clientes japoneses.

Esta barreira refere-se às diferenças culturais, maneiras diferentes de fazer negócio, à diferença horária, à distância geográfica, que dificultam o encontro presencial, entre outros.

   20. Dificuldade em receber pagamentos do Japão.

Relacionada com o método escolhido entre as partes que poderá ser desvantajoso para o exportador.

   21. Problemas na compreensão das atitudes e hábitos diferentes dos consumidores japoneses.

Caso a compreensão do comportamento dos consumidores japoneses seja difícil, esta barreira será muito importante. Por exemplo, a maioria das habitações dos japoneses são pequenas, pelo que a comercialização de produtos muito grandes não será bem-recebida.

   22. Desconhecimento dos produtos portugueses pelos japoneses.

O não conhecimento dos produtos portugueses pelos japoneses faz com que haja alguma desconfiança. Isto implica que os produtos se promovam, passando uma imagem de confiança - não só do produto, mas também da empresa que vende -, dando a conhecer a história do produto e a sua funcionalidade. Por exemplo, enquanto que em Portugal se consome os vinhos pelas regiões, no Japão essas regiões não são conhecidas, logo o valor é desconhecido também.

   23. Concorrência muito forte no mercado japonês.

O mercado japonês é altamente competitivo e apresenta várias barreiras não-tarifárias. O excesso de competição, quer por empresas japonesas, quer por concorrentes estrangeiros, dificultam o sucesso português no Japão.

   24. Condições político-económicas no Japão.

O Japão tem a maior dívida pública no mundo, a população mais idosa do mundo, um sistema burocrático ultrapassado cuja reforma requererá um novo contrato social. Por exemplo, de acordo com dados da The Economist (2021), quase 40% da força de trabalho japonesa tem contratos de trabalho precários. Procura-se investigar se há algumas condições político- económicas que afetam a atividade das empresas portuguesas no Japão.

   25. Práticas e cultura de negócio diferentes do Japão.

A incompreensão da cultura de negócios japonesa pode levar a oportunidades perdidas. Por exemplo, é sabido que os japoneses demoram muito tempo a tomar uma decisão.

   26. Diferenças na comunicação verbal (idioma) e não verbal (cultura).

A não compreensão da língua japonesa e dos aspetos culturais que influenciam a maneira de comunicar dos japoneses podem ser uma barreira muito importante. Por exemplo, durante uma negociação os japoneses poderão dizer várias vezes “sim”, mas esse “sim” significa simplesmente que estão a acompanhar o raciocínio e não uma concordância com o que está a ser dito. Conhecimento da língua japonesa é necessário, uma vez que o Japão tem um baixo nível de domínio da língua inglesa.

   27. Normas e regulamentos específicos do mercado japonês.

Sistemas legais de países diferentes implicam regras e normas diferentes que podem ser consideradas demasiado excessivas, ou até desnecessárias. Normas e regulamentos excessivos são postos em prática para dificultar a concorrência estrangeira. Mesmo com a entrada do Acordo de Parceria Económica União Europeia-Japão, vários entraves permanecem, com o Japão a não aceitar alguns regulamentos europeias ou internacionais.

   28. Custos aduaneiros altos.

Algumas empresas poderão ter dificuldade em suportar os custos aduaneiros.


Conversas

O objectivo das conversas era o de suplementar a revisão de literatura com dados actuais da experiência portuguesa no mercado japonês, por parte de agentes institucionais. As conversas seguiram o método de entrevista semi-fechada, onde temas e devidas perguntas foram preparadas, mas foi dada liberdade ao inquirido de falar sobre outros temas. Abaixo apresento os temas préviamente preparados.

Temas

Parte 1: Sobre o Japão

1 Oportunidades e fraquezas
2 APE UE-Japão

Parte 2: Sobre os exportadores

3 Informação geral sobre as empresas
4 Barreiras encontradas pelas empresas
5 Expectativa e realidade
6 Recomendações

A primeira conversa foi com a Aicep, e seguiu de perto a estrutura preparada, tocando em temas como o APE e a maneira de fazer negócios no Japão. A seguinte conversa foi com a GOD Works, onde se falou muito sobre como estar no Japão é uma porta para outros mercados vizinhos. Por último, a conversa com a ViniPortugal abordou temas sobre a cultura de negócios japonesa, e sobre a acção da ViniPortugal no Japão.